Divagações da Bruma

Viagens da minha cabeça, do meu sentir, do meu ser, do meu existir... as memórias, o sabor de experimentar, ganhar asas e voar, desvendar os mistérios da bruma, os meus.

28 julho, 2007

Porto Côvo

Roendo uma laranja na falésia
olhando um mundo azul à minha frente
ouvindo um rouxinol na redondeza
no calmo improviso do poente

Em baixo os fogos trémulos nas tendas
ao largo as águas brilham como prata
e a brisa vai contando velhas lendas
de portos e baias de piratas

Havia um pessegueiro na ilha
plantado por um Vizir de Odemira
que dizem por amor se matou novo
aqui no lugar de Porto Côvo

A lua já desceu sobre esta paz
e reina sobre todo este luzeiro
à volta toda a vida se compraz
enquanto um sargo assa no braseiro

Ao longe a cidadela de um navio
acende-se no mar como um desejo
por trás de mim o bafo do estio
devolve-me à lembrança o Alentejo

Havia um pessegueiro na ilha
plantado por um Vizir de Odemira
que dizem por amor se matou novo
aqui no lugar do Porto Côvo

Roendo uma laranja na falésia
olhando à minha frente o azul escuro
podia ser um peixe na maré
nadando sem passado nem futuro


Carlos Tê / Rui Veloso